14 de jan. de 1984

Raspas de Limão

Fujo e sento pra pensar um pouco na vida
Ao calor, assisto um carteiro descarregar as encomendas
Deisleixado e sem consideração, ele joga elas como caixas vazias
Sinto como se meu coração estivesse numa delas

Saio dali pra me fazer bem, vou procurar algo pra adoçar o amargo da minha boca
Um chocolate, uma torta, um Muffin talvez
Burro, escolho limão, nem de longe o doce que procuro

Volto cabisbaixo da tentativa de alívio, com um peso maior que meus ombros aguentam
Pelo dia cinza, piso nas poças sem cuidado
Molho meus sapatos e minha calça

Me ofereço aos quatro ventos, buscando alguém com quem dividir a sarjeta

Mas é em vão

Qualquer coma alcólico seria melhor que essa ressaca emocional
Mas até isso está longe demais pra mim

Até poderia me esforçar pra escrever melhor e aliviar isso
Mas nem isso tenho vontade de fazer

Está tudo sem valor

Pensar que quase tudo isso fruto de um amor de irmão
Tenho nojo da minha vida, tenho pena de mim